O Twitter revolucionou a comunicação

Após uma semana agitada na relação entre política e internet (e um coronel amapaense no meio), o jornalista Marcelo Tas faz um balanço do que, afinal, merece atenção. Apoiador e divulgador do #ForaSarney, ele defende a mobilização pela internet mas critica alguns métodos adotados por partidários da campanha. Em entrevista ao Link por telefone, Tas citou a palavra "revolução" nove vezes e falou sobre jornalismo, política e internet. Acompanhe:

Você acha que o Twitter vai revolucionar a comunicação?

Não, eu acho que já revolucionou. Acho que já influenciou e mudou muito a comunicação.

Você acha que essa revolução vai afetar a maneira como a gente recebe e lida com o fluxo de notícias nos próximos anos?

Muito. E é algo que a gente não vai perceber de uma maneira tão pontual quanto a gente percebeu com a chegada da TV, por exemplo. É algo muito mais sutil e, paradoxalmente, muito mais rápido. Entra tão imediatamente na nossa vida que a gente não identifica. A gente tem uma dificuldade muito grande de processamento. Os chips vão se acelerando em proporção geométrica, e a gente continua com o mesmo cérebro, com o mesmo corpo - graças a Deus, inclusive -, e principalmente com a mesma cultura, que é uma cultura muito analógica.

O Twitter pode contribuir para o fim do jornal como conhecemos?

Não gosto do verbo "acabar", gosto do verbo "transformar", sabe? Porque nada vai acabar. Os livros, a disenteria, os finais de casamento, essas coisas não vão acabar. Os dramas humanos e os jornais também não vão acabar. Vai tudo sendo transformado por essa possibilidade que a gente tem não só de consumir como de produzir informação. O leitor virou uma fonte, um produtor de notícia. Mas o cara que apura, qualifica e até comenta o que aconteceu tem que ser muito preparado. Esse alguém pode ser um jornalista, e acredito que vai ser um jornalista, mas pode também ser um cara que escreva bem e more em Cuiabá.

Qual sua posição sobre todo o caso envolvendo o #ForaSarney e as celebridades no Twitter?

Antes de mais nada, fico muito aliviado por ainda termos pessoas indignadas com o Sarney. Acho maravilhoso que uma molecada tenha tido a iniciativa de criar a tag e começado a se manifestar. Esse episódio aí para mim é muito pequeno. É uma coisa que ganhou uma dimensão... não há nenhum interesse em ficar falando em "subcelebridades". Pra mim são pessoas equivocadas sim, e a maneira como eles pediram essa ajuda ao Ashton [Kutcher] foi totalmente ingênua e boboca, para usar palavras muito elegantes. Mas isso para mim teve nenhuma importância. O mais importante foi ver a molecada gerando esse barulhão na internet contra o Sarney.

Ainda que essas manifestações tenham ficado só na rede e poucos tenham comparecido de fato aos locais marcados pra manifestação?

Esse é o jeito analógico de pensar. Quando você fala que o pessoal não compareceu, está se baseando em algo como as Diretas Já, né? Mas nas Diretas demorou um ano e meio pra botar 300 mil pessoas na rua. O #ForaSarney em uma semana mobilizou, saiu matéria em tudo quanto é jornal, e já decretam que foi um fracasso. Se estão criticando as pessoas que foram, quem está errado? Quem foi ou quem não foi? Vi um monte de nerds, em alguns lugares como o Amapá, foram 50 pessoas. Acho isso incrível, primeiro porque o Amapá foi o lugar onde foi eleito o Sarney. E aí as pessoas acham que foi um fracasso. O que me interessa é que tem gente colocando pra fora sua indignação. Jovens que sempre foram tratados como alienados, que "só ficam sentados no computador", quando tiram a bunda do computador são criticados porque são poucos?

Dá pra fazer a revolução pela internet, então?

Não, com a internet não. A revolução se faz com pessoas.

E qual o papel da internet na revolução?

Ela é apenas uma ferramenta, e não é a única. Eu acredito que revolução pra valer, de gente séria, se faz com educação. É a revolução que foi feita na Coreia, e é essa a revolução que me interessa. É o país que tem maior adoção de banda larga e de telefonia celular do mundo, onde a internet não foi tratada com preconceito, mas como uma ferramenta. Nosso erro é olhar pra internet como se ela tivesse vida, como se ela fosse uma pessoa. Ela não é uma pessoa, ela é uma ferramenta como uma caneta. Depende de como a gente usa. O nosso caso, que é bastante grave, é que as pessoas que saem na frente levam porrada de quem tem medo da mudança, como foi essa molecada do #ForaSarney. Tem umas pessoas que ficam torcendo contra, e ficam pintando eles como se eles fossem uns bobocas. Eu não tenho esse tipo de preconceito. Não participei das manifestações, até porque eu, como apresentador do CQC, não tenho que tomar partido ou vestir a camisa de uma causa. Mas apoiei ajudando a divulgar por um motivo muito simples: eu acho o Sarney uma doença para o Brasil.

Não foi ingenuidade dos partidários de Sarney minimizar a campanha?

A cabeça dele é analógica, é a cabeça de um coronel que já fechou televisões e jornais. O Sarney já chegou a tirar do ar a Rede Globo no Maranhão. É um cara que domina o mundo analógico, mas desconhece o digital e começa a levar seus tombos. A mesma coisa aconteceu com o ACM. O coronel manda prender, manda sumir com gente.

Não tenho duvida de que o Sarney vai ser soterrado pela opinião publica.

Diante desse panorama político de uma liberdade de expressão inédita na humanidade, você acha é possível censurar a internet?

Não dá. E isso é curioso, por conta do DNA da internet, que é descentralizado. É uma espécie de armadilha do destino para esses tiranos, mesmo na China. Lá, os nerds conseguem driblar o firewall, a muralha digital chinesa. Não é todo mundo, mas um faz um buraquinho, outro faz e a muralha digital vai cair que nem a grande muralha.

Você acha que os iranianos teriam tido condição de fazer a mobilização que fizeram sem o Twitter?

Não dava. Eles não teriam tido a abrangência e a velocidade que conseguiram. Nós estamos acompanhando em tempo real. Por exemplo, a menina que levou o tiro e caiu no asfalto. A gente viu aquela imagem umas horas depois, o mundo inteiro viu. Há três anos isso provavelmente não aconteceria. Esse é um exemplo muito evidente de algo que já está entre nós.

Fonte: Estadão


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